quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um plebiscito de três... (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)


Olá, boa tarde! Como não poderia deixar de ser a política, mais uma vez, nos surpreendeu. Não só a nós, analistas, mas especialmente a eles, os políticos. Falo do sucesso acima do esperado da candidatura de Marina Silva (PV), de alguma forma subestimado pelas pesquisas, porém ratificado pelas urnas. Marina obteve mais de 19 milhões de votos, alcançando quase 20% do eleitorado e provocando o adiamento da decisão, que todos sabemos era aguardado por muitos no último dia 03. O que podemos pensar disso? Não creio que o prolongamento da disputa ateste a eficácia da propaganda eleitoral de José Serra (PSDB). Sua candidatura continua incorrendo nos mesmos erros ao não demarcar distinção em relação ao governo petista. Talvez o sucesso de Marina e o adiamento da decisão para o próximo dia 31 seja melhor explicado por outro erro, agora de Dilma Rousseff (PT). A tentativa da candidatura governista de estreitar a escolha do eleitor no gargalo do plebiscito, opondo o sucesso do governo Lula ao suposto fracasso da era FHC, encontrou, como tudo na história, elementos não previstos pela intenção original. Falo exatamente de Marina Silva, uma terceira via que saiu de coadjuvante ao status de ator em disputa e que pode, agora, emparedar os concorrentes aprisionando-os em suas propostas. É isso que o seu partido, o PV, já anuncia em coletivas empurrando a decisão sobre quem irá apoiar para uma plenária futura. Essa é, aliás, uma estratégia antiga na política: a incerteza daqueles que carecem de apoio, no presente todos, os conduz à fragilidade desejada. O PV reforça seu desprendimento por cargos, fisiologismo conhecido em contextos similares, erguendo seu programa de governo como moeda de troca. Dilma e Serra certamente aceitarão o preço, restando saber quem pagará mais. Ainda assim tenho uma intuição sobre a postura de Marina que talvez tenha implicações no seu apoio: com o desempenho obtido ela se cacifou como personagem em disputa. Sua votação cresceu na blindagem promovida em volta de Dilma, escondendo a candidata ao longo do primeiro turno na crença de que o prestígio de Lula encerraria a contenda; na impotência da candidatura de oposição, apresentando um “Zé Serra” incoerente com o perfil tucano; e, o mais importante, no diferente. Em momento algum Marina se apresentou como “igual”, erro esse cometido por Serra. Isso pode fazer com que seu apoio seja realmente pensando em outras bases, ou seja, decidido tendo como norte a estruturação de Marina e do PV como opções no futuro. Resta sabermos se a postura de distinção apresentada durante a campanha, responsável pela capitalização política que constatamos na apuração, será sustentada agora que Marina é comprovadamente “importante”. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!
A coluna Cena Política vai ao ar todas as quintas (por volta das 14:30h), na Rádio Catedral FM 102,3.

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