quinta-feira, 25 de março de 2010

O papel republicano da representação (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)

Olá, boa tarde! O suposto excesso de candidatos na cidade de Juiz de Fora previsto para o próximo pleito eleitoral ganhou os noticiários na semana passada. Pelas contas, os 23 partidos com representação na cidade pretendem, até o momento, lançar algo em torno de 57 candidaturas, incluindo postulantes ao cargo de deputados estadual e federal e senador. A primeira impressão é comum, mesmo entre os analistas: candidatos em demasia disputarão a mesma fatia do eleitorado e podem, no limite, enfraquecer a representação da cidade nas esferas políticas estadual e federal. Entretanto, essa “impressão” carrega consigo uma série de afirmações problemáticas e que demandam maior atenção quanto ao modo como avaliam a representatividade de Juiz de Fora nas últimas legislaturas, ou mesmo a própria idéia de representação política nas democracias contemporâneas. Por um lado, a cidade tem obtido sucesso nas últimas disputas, emplacando nomes locais na Assembléia de Minas e na Câmara Federal, uma média de quatro deputados em cada casa, como bem chamou a atenção o professor Marcelo Dulci da Universidade Federal de Juiz de Fora, avaliação seguramente contrária à maioria das lideranças locais. Por outro, o modo como tal discussão concebe a idéia de representação traduz, talvez, certa confusão quanto ao papel republicano dos parlamentares, reforçada, inclusive, pelo mau desempenho da maioria dos eleitos. É curioso notarmos que na cabeça do eleitorado subsiste a crença de que apenas elegendo o “meu” deputado terei os “meus” interesses defendidos, o que pode, sem medo do exagero, ser traduzido na idéia de que os serviços mínimos e de concessão obrigatória para a garantia da dignidade da população – escola, saúde, saneamento básico, segurança, dentre outros – dependem necessariamente do sucesso de deputados da cidade e região. Sem inocência alguma, todos nós sabemos que é assim que as coisas são. Mas a política, a boa política, nunca foi prisioneira dos fatos e sempre sem preocupou mais com o que o mundo deveria ser do que propriamente com o que o mundo é. Constatar que hoje dependemos da eleição de candidatos da cidade e região para que a cidade e a região sejam atendidas pelas políticas públicas de que somos carentes, não nos impede de problematizar tal prática em nome do bom exercício republicano: se ocupar da coisa pública. Ainda que a cidade tenha muitos candidatos e eleja poucos deles isso não pode, em momento algum, se apresentar como empecilho para sejamos contemplados com que precisamos. Afinal, as disputas na democracia devem produzir bons resultados e não cisões. Torço para que a política se preocupe com todos e não apenas com os seus. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!

A coluna Cena Política vai ao ar todas a quitas (por volta das 14:30h), na Rádio Catedral FM 102,3.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Quem queima a largada... ganha! (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)

Olá, boa tarde! Nos últimos meses temos ouvido inúmeras críticas ao modo como o presidente Lula vem conduzindo a campanha, ou pré-campanha, da sua candidata, a ministra Dilma Rousseff. A oposição e grande parte da impressa acusam ambos de antecipar o início da “propaganda”, tendo Dilma participado da grande maioria das viagens do presidente em inaugurações pelo Brasil e eventos internacionais, prática que desrespeita as leis eleitorais em vigor. Certamente, ignorar as regras do jogo em benefício próprio não configura, de longe, uma prática republicana saudável. No entanto, mais do que a leitura formal do que vem acontecendo no cenário eleitoral, há um elemento substantivo que bem traduz o que se passa por trás do “choro”, sem me posicionar em lado algum, dos “críticos”: o imobilismo da oposição. Não é de hoje que campanhas começam antes do período eleitoral regulamentar e com isso não quero, em momento algum, defender ações irregulares. Chamo a atenção apenas para o fato de que outro motivo que não o purismo e o zelo exemplar pela legislação eleitoral pode explicar porque as demais campanhas ainda não começaram a “aparecer”. Incrivelmente parece que só Lula tem um projeto, o de eleger Dilma, concomitante ao imobilismo das demais candidaturas que se debatem em torno de críticas descabidas, vitupérios, contanto, é claro, com um setor da imprensa ávido em manchetes explosivas para sobreviver. E quando se discute política? Nunca! A culpa disso é apenas do presidente e de sua “eleita”? Seguramente, não! O projeto governista que vem desfilando pelo país em inaugurações e coisas do gênero graça na medida em que conta com uma pane de propostas, projetos, uma pane de política. Num país onde é difícil se apresentar como continuidade, estruturando quase sempre campanhas eleitorais em torno da bandeira da mudança e da cega negação do passado, hoje parecer ser esta a principal arma para se eleger, arma essa vetada aos que não fazem parte do governo. Não sou o primeiro e nem serei o último a dizer isso: ou a oposição formula um projeto que passe ao largo de acusações que só servem pra vender jornal, imaginando um Brasil que não pode esquecer seu passado para andar para frente, ou Dilma, mesmo ela, ganhará. Como em política as coisas geralmente são diferentes, podemos dizer que aqui quem queima a largada na corrida... ganha! Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!
A coluna Cena Política vai ao ar todas as quintas (por volta das 14:30h), na Rádio Catedral FM 102,3.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Eleições 2010 - parte 01 (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)

Olá, boa tarde! Em outubro de 2010 cerca de 130 milhões de brasileiros irão às urnas escolher seus representantes. O processo eleitoral, que para nós se confunde com a própria idéia de democracia, é um dos mecanismos pelos quais o cidadão brasileiro exerce o poder no país, conforme definido na Constituição Federal. Ainda que no cotidiano a grande maioria dos brasileiros não se envolvam com a política, as eleições afiguram-se como a chance de fazer valer o que entendemos como certo e errado, colocando em movimento a luta e a efetivação dos nossos direitos. Este ano estarão em disputa os cargos dos legislativos estaduais e distrital, a renovação de 2/3 do Senado Federal, o governo dos estados e do Distrito Federal e a presidência da República. É de suma importância que a população atente para a possibilidade de pautar a própria vida, fazendo uso das conquistas que a consolidação da democracia entre nós promoveu. As rádios, jornais, associações de bairro, sindicatos, entidades representativas em geral, a igreja, as escolas, os partidos políticos, por que não, são todos canais através dos quais a sociedade pode canalizar suas demandas com o objetivo de fazer com que as eleições de 2010 não sejam apenas uma formalidade na troca dos representantes, mas sim o momento no qual as demandas concretas da vida se expressem. Habitação, saneamento, educação, segurança pública, lazer, temas polêmicos como cotas raciais para ingresso nas instituições de ensino e a diminuição do preconceito, homofobia, são exemplos de como a população tem problemas que em muito se distanciam do que costumeiramente observamos nos meios de comunicação sobre política. Sem dúvida o período eleitoral é o momento ideal para fazer com que a política saia de uma agenda perversa, marcada pela corrupção, ou mesmo de uma agenda menor, ocupada em lotear a máquina pública com aliados e pouco atenta aos anseios da sociedade, e entre, efetivamente, numa discussão maior sobre o que o Brasil precisa para superar seus desafios. Encaremos com bons olhos as eleições que se aproximam. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!
A coluna Cena Política vai ao ar todas as quintas (por volta das 14:30h) na Rádio Catedral FM 102,3.