sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Sobre a importância da política (Mensagem de final de ano - Rádio Catedral FM 102,3)

Olá ouvintes da Rádio Catedral, eu sou Diogo Tourino, cientista político, e estou com vocês todas as quintas na coluna Cena Política. A realidade insiste em nos decepcionar. Mais um ano se passou repleto de maus exemplos: violência urbana, impasses na política externa, a não resolução do problema da terra e, como se não bastasse, um novo escândalo de corrupção. Ainda assim, uma das grandes lições da política consiste na capacidade que homens e mulheres tiveram de mudar a história por meio do seu exercício. Se por vezes nos perguntamos como o mundo é, a beleza da política está exatamente e nos dizer como ele deve ser. Que ela deixe de ser nossa inimiga e torne-se aliada. Um bom final de ano, boas festas e um feliz ano novo.
A coluna Cena Política vai ao ar todas as quintas (por volta das 14:30h) na Rádio Catedral FM 102,3.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

É bom que façamos política (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)

Olá, boa tarde! A corrupção persiste como a grande mazela da política, não só no Brasil. Chaga antiga, seu combate tem mobilizado novos recursos, contando com a presença seja de atores institucionais – o caso do Ministério Público e da livre imprensa –, seja de modernas tecnologias – câmeras cada vez menores e com maior definição que enfocam, sem dó nem piedade, corruptos dos mais diversos escalões recebendo seu “sujo” dinheirinho. Algo que manifesta uma tendência positiva: a corrupção aparece aos olhos da sociedade e apenas assim temos chance de combatê-la. Soma-se a isso o dado de que o país conta, hoje, com uma sociedade civil viva, indignada, cansada de suas mazelas que nunca cessam. A despeito de inúmeras críticas sobre a apatia da população brasileira, as manifestações no Distrito Federal, inflamadas por movimentos organizados, mostram como nos últimos 20 anos um conviva inesperado tem incomodado o poder instituído: o povo! Não por acaso, os noticiários da semana oscilaram entre a repressão algo exagerada aos manifestantes no planalto central, e as respostas dos Poderes da República aos episódios. O Legislativo discute o projeto de lei que impede a candidatura de políticos condenados em primeira instância; o Executivo, na figura do presidente, encaminha a discussão sobre o agravamento do crime de corrupção, tornando-o hediondo; e o Judiciário persiste na necessidade de julgamentos mais rigorosos. Ainda que passíveis de questionamentos, tais iniciativas representam respostas ao modo como a sociedade tem reagido mal ao caso do governo Arruda, mais uma na longa série de decepções. Particularmente não simpatizo com o projeto “ficha limpa” por acreditar que ele fere o preceito constitucional da presunção de inocência: todos são inocentes até que se prove o contrário. Bem como não acho que agravar a pena do crime de corrupção, tal como Lula sugeriu esta semana, corrigirá o problema de que muitos casos não são julgados a tempo ou sequer são julgados, dado que questiona o próprio Judiciário, ávido em apontar defeitos na política e leniente com suas próprias imperfeições. O que fica de positivo do mais recente escândalo na política é, sem dúvida alguma, a presença da sociedade, com seus deboches servindo panetone gigante, sua ousadia frente à repressão policial, sua existência. Mesmo cansada, ela aparece, marca presença, acredita. Isso é política e é bom que a façamos contra o que discordamos. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!
A coluna Cena Política vai ao ar todas as quintas (por volta das 14:30h) na Rádio Catedral FM 102,3.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sobre a densidade do passado e o seu esquecimento (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)

Olá, boa tarde! Esta semana a sociedade brasileira se viu em meio a mais um escândalo na política, provocado pelas imagens que mostram o alto escalão do Governo do Distrito Federal recebendo propina, que salvo julgamentos antecipados, é no mínimo estranho imaginar que pessoas ligadas ao governo são remuneradas em altas quantias com dinheiro vivo e o transportam na meia e na cueca. Pergunto: por que não uma transferência bancária? A partir da divulgação do caso, que tem como protagonista o governador José Roberto Arruda (DEM), a imprensa vem trazendo declarações e reviravoltas sobre o suposto esquema de corrupção identificado pela Operação Caixa de Pandora da Polícia Federal, sobre o destino dos partidos ligado ao governo Arruda, sua base aliada aparece quase toda se “sujando” com o dinheiro suspeito nas imagens, e sobre o futuro do próprio Arruda, na berlinda dentro do DEM que enfrenta forte pressão para expulsá-lo do partido. Assim como nos demais escândalos que indispuseram, no momento da sua divulgação, a sociedade com seus representantes eleitos, o caso Arruda traz a tona um passado recente onde o mesmo protagonizou, ao lado do falecido Antônio Carlos Magalhães, um dos maiores crimes da República: a fraude no painel do Senado. Lá atrás, o ano era 2001, o então senador Arruda mentiu, depois assumiu a culpa, chorou e renunciou para não ser cassado. Agora, no presente, ele nega a propina, mas só o tempo dirá se o enredo será o mesmo, seguido da confissão de culpa, do choro e do afastamento para o breve retorno. Até aqui tudo bem, políticos roubam, a sociedade se indigna, um “cristo” é crucificado e voltamos ao rotineiro processo de “esquecimento”. Entretanto, das declarações que andei ouvindo sobre o ocorrido, uma em especial me preocupou: trata-se da “desesperança” do senador Pedro Simão (PMDB-RS), convidando a sociedade civil a agir ao afirmar que nós “não devemos esperar nada do Congresso”. Que a sociedade deva participar mais da democracia no país concordo e defendo, diante dos desdobramentos do caso, com a invasão da Câmara Distrital em Brasília e palhaços servindo panetone na porta do governo, a presença do povo nas ruas. Meu medo é que mais um escândalo implique desesperança e esquecimento. Se as suspeitas sobre o “último crime” de José Roberto Arruda se confirmarem, o que incomoda é reincidência: um réu confesso que voltou ao poder. O que nos falta? Acho que talvez a crença, não necessariamente no Congresso, mas na política e no passado. Ele existe e somente lembrando dele teremos a chance de um futuro. Que mais um escândalo não nos desanime. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!
A coluna Cena Política vai ao ar todas as quintas (por voltas das 14:30h), na Rádio Catedral FM 102,3.