quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sobre a densidade do passado e o seu esquecimento (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)

Olá, boa tarde! Esta semana a sociedade brasileira se viu em meio a mais um escândalo na política, provocado pelas imagens que mostram o alto escalão do Governo do Distrito Federal recebendo propina, que salvo julgamentos antecipados, é no mínimo estranho imaginar que pessoas ligadas ao governo são remuneradas em altas quantias com dinheiro vivo e o transportam na meia e na cueca. Pergunto: por que não uma transferência bancária? A partir da divulgação do caso, que tem como protagonista o governador José Roberto Arruda (DEM), a imprensa vem trazendo declarações e reviravoltas sobre o suposto esquema de corrupção identificado pela Operação Caixa de Pandora da Polícia Federal, sobre o destino dos partidos ligado ao governo Arruda, sua base aliada aparece quase toda se “sujando” com o dinheiro suspeito nas imagens, e sobre o futuro do próprio Arruda, na berlinda dentro do DEM que enfrenta forte pressão para expulsá-lo do partido. Assim como nos demais escândalos que indispuseram, no momento da sua divulgação, a sociedade com seus representantes eleitos, o caso Arruda traz a tona um passado recente onde o mesmo protagonizou, ao lado do falecido Antônio Carlos Magalhães, um dos maiores crimes da República: a fraude no painel do Senado. Lá atrás, o ano era 2001, o então senador Arruda mentiu, depois assumiu a culpa, chorou e renunciou para não ser cassado. Agora, no presente, ele nega a propina, mas só o tempo dirá se o enredo será o mesmo, seguido da confissão de culpa, do choro e do afastamento para o breve retorno. Até aqui tudo bem, políticos roubam, a sociedade se indigna, um “cristo” é crucificado e voltamos ao rotineiro processo de “esquecimento”. Entretanto, das declarações que andei ouvindo sobre o ocorrido, uma em especial me preocupou: trata-se da “desesperança” do senador Pedro Simão (PMDB-RS), convidando a sociedade civil a agir ao afirmar que nós “não devemos esperar nada do Congresso”. Que a sociedade deva participar mais da democracia no país concordo e defendo, diante dos desdobramentos do caso, com a invasão da Câmara Distrital em Brasília e palhaços servindo panetone na porta do governo, a presença do povo nas ruas. Meu medo é que mais um escândalo implique desesperança e esquecimento. Se as suspeitas sobre o “último crime” de José Roberto Arruda se confirmarem, o que incomoda é reincidência: um réu confesso que voltou ao poder. O que nos falta? Acho que talvez a crença, não necessariamente no Congresso, mas na política e no passado. Ele existe e somente lembrando dele teremos a chance de um futuro. Que mais um escândalo não nos desanime. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!
A coluna Cena Política vai ao ar todas as quintas (por voltas das 14:30h), na Rádio Catedral FM 102,3.

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