Olá, boa tarde! Depois de quase um mês de campanha eleitoral em ritmo acelerado, acho um bom momento para refletirmos sobre o sentido das eleições na democracia. Mais do que a simples troca dos governantes, as eleições constituem o momento singular no qual a grande maioria dos cidadãos, pouco envolvidos com a política no seu dia-a-dia, é convidada a participar do processo na escolha dos seus representantes e, no limite, expressão da sua vontade. Não por acaso, a Justiça Eleitoral tem realizado massivas campanhas sobre a importância do voto na definição do futuro de todos nós. Nessa direção, o sentido das eleições é principalmente construir um grande momento de inflexão sobre os problemas do país, suas carências, realizando um honesto balanço do passado e uma promissora aposta no futuro. Sim, pois por mais que o voto seja decidido com base na empatia ou racional análise das propostas, ele é sempre uma aposta na esperança de que os candidatos em disputam atendam às expectativas que temos de melhora das nossas vidas. Entretanto, o que vemos no presente? Tudo, menos isso. Creio que vivenciamos um amplo e triste processo de despolitização das eleições ou de perda do seu sentido. Na ausência de uma oposição consistente, a indicação do presidente Lula da sua sucessora graça, contanto com uma pane na estratégia do PSDB. Fala-se do vazamento de informações da Receita Federal, do passado de Dilma na luta armada durante da Ditadura Militar, da existência de um meio-irmão búlgaro que teria sido abandonado na miséria, e até da possibilidade de ser Serra o sucessor mais adequado do PT, negligenciando o que o governo Fernando Henrique Cardoso fez para o Brasil, de bom e de mal. O vazamento de dados da Receita é um caso grave e que deve ser combatido. O curioso é apenas ver que muito mais se discute a ligação do caso ao PT, do que falhas no sigilo das informações. O saldo, a meu ver, é de que não se discute política. Os problemas do país passam ao largo de debates sobre o passado familiar de Dilma, por exemplo. Mais do que isso, a oposição parece ter perdido a chance de fazer política, marcando sua identidade frente ao governo Lula, e optou pela problemática estratégia de fazer das eleições um caso de polícia. Tal decisão cobrará, num futuro próximo, o seu preço. Torço para que os eleitores revertam o que as campanhas vêm promovendo e cobrem, de fato, um debate sobre o Brasil. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!
A coluna Cena Política vai ao ar todas as quintas (por volta das 14:30h), na Rádio Catedral FM 102,3.
3 comentários:
Nada mais claro do que essa atitude do PSDB nessa eleição para afirmamos com convicção que o PODER É UM LUGAR EM DISPUTA e que a meta de qualquer partido é alcançar esse poder, aumentando sua força e influência política, sem dar importância se sua campanha não passa de julgamentos morais despolitizados, mas como você mesmo disse, "caso de polícia" ou de trabalhar com suas perspecrivas ideológicas, discutindo as carências atuais do nosso país e suas perspectivas futuras para com o mesmo.
Enquanto o voto não for apenas a COROAÇÂO de um exercício pleno e decisivo da maioria da população, as questões relevantes continuarão afastadas do cenário político. Somente quando a sociedade se organizar congregando-se e a partir desta congregação for capaz de se expressar através de discursos que possam afetar de fato e radicalmente o cenário político, apenas então estaremos de fato numa democracia, ainda que ela seja no fim, representativa. Talvez seja indispensável lembrar do papel do intelectual nessa congregação, o que Habermas, Gramsci, Foucault e tantos outros já perceberam. A rua ainda nos espera...
Existe um problema fundamental que faz com que tudo isso que foi citado se repita com a frequência que observamos. O grande e primordial defeito do liberalismo e não incentivar o homem a atuar como ser politico, ou seja como ente congregador. As campanhas em prol do voto consciente, são incentivadas e de fato são incentivaveis, contudo, continuam pecando por não tocar a questão a fundo. Não se trata de ganhar um hospital ou uma dentadura, se trata de exercicio de poder. As pessoas precisam ser incentivadas a exercitarem-se como animais políticos e não como eleitores esclarecidos.
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