quinta-feira, 2 de setembro de 2010

I Semana Acadêmica de Ciências Sociais da UFV - "Ciências Sociais e Vida Pública" (divulgação)

Objetivo:

A I Semana Acadêmica de Ciências Sociais da Universidade Federal de Viçosa tem o objetivo de fomentar o debate científico e tecnológico na UFV, bem como o intercâmbio com pesquisadores de instituições convidadas. O evento tem como tema “Ciências Sociais e vida pública”, com o objetivo de discutir a inserção dos cientistas sociais na vida pública brasileira, seus problemas e desafios, e a reflexão sobre questões presente na agenda política nacional.

Justificativa:

A intelectualidade no Brasil demonstrou, ao longo de sua trajetória, uma particular vocação pública em diferentes períodos da história do país. Tal particularidade sobressai no exame dos temas que ocuparam a inteligência nacional, conformada segundo a íntima proximidade estabelecida com o público e com discussões acerca do interesse comum. Mesmo tendo que se adaptar a diferentes soluções institucionais ao longo da trajetória de modernização – como as Academias, Universidades e, mais recentemente, as ONGs –, a organização da atividade intelectual no Brasil demonstrou um interessante padrão de continuidade, como argumentou recentemente[1] a atual presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), a professora Maria Alice Rezende de Carvalho (PUC-Rio).

Segundo ela, ao passo em que a monarquia brasileira adotou os intelectuais como parte constitutiva do seu poder, conferindo-lhe uma evidente dimensão pública e destaque para os “temas da política, da institucionalização dos mecanismos de poder e de ordenação do mundo público”, a república voltou-se “para a sociedade, para as relações mediadas pelo mercado e para os padrões de diferenciação social que operam na estrutura da ordem moderna”, sem, no entanto, extrair “a experiência dos publicistas, (...) cuja autonomia derivava de sua peculiar inscrição social, como membros de uma elite sem amarras no mundo mercantil (...) portadores de uma representação do país fortemente encapsulada por categorias e esquemas mentais do período anterior” (Carvalho, Maria Alice. 2007, p. 20-21, obra citada).

A permanência dessa vocação, apontada na organização da inteligência brasileira, nos ajuda a compreender igualmente o papel desempenhado pela atividade intelectual nas transformações ocorridas no início do período republicano: ao abrigar igualmente o discurso dos publicistas, a organização republicana abriu a possibilidade para que o projeto de 1891 fosse compreendido a partir da perda da “grande obra do Estado centralizador”, como na conhecida formulação de Oliveira Vianna, gerando uma crescente hostilidade dos intelectuais em relação aos direitos individuais e promovendo, por fim, a defesa de um Estado intervencionista que se consolidaria em 1930 – ou efetivamente apenas em 1937 –, subordinando os interesses individuais a uma “razão nacional”. Isso nos permite dizer que “o Estado Novo recuperou a política imperial de fazer da cultura um assunto de interesse público e (...) conferiu a [sociologia] papel destacado na construção de consenso em torno dos objetivos da modernização” (ibidem), reforçando, de alguma forma, um padrão de comportamento preexistente.

A constância dessa vocação pública presente na intelectualidade nacional é apontada, ainda, na forma como a inteligência buscou recentemente novas formas de inscrição no mundo público, como o exemplo das ONGs, sem descuidar, é claro, da sua presença nas Universidades, Associações e Academias científicas. Em linhas gerais, os intelectuais no Brasil não se esquivaram do debate de assuntos caros à organização política, diminuição da desigualdade, combate à corrupção, dentre outros temas presentes na agenda pública do país, durante a maior parte de sua história, com a triste nota de que sua ausência coincidiu, quase sempre, com a ascensão de períodos autoritários.

Tal vocação tem sido apontada também no cenário internacional, como o discurso de posse de Michael Burawoy na Associação Sociológica Americana, pronunciado em agosto de 2004, demonstra[2]. Segundo ele, a capacidade de tornar públicos problemas privados seria um modo de regenerar a fibra moral da sociologia, reivindicando um necessário engajamento da disciplina sem, no entanto, comprometer a objetividade científica. Burawoy atenta para a chance de recuperarmos a própria idéia de público, corrompida ante o avanço do mundo do mercado, enfatizando a defesa de valores humanos no aprimoramento das relações sociais.

Dessa forma, refletir o modo como os cientistas sociais se ocuparam do debate público ao longo de sua trajetória, avaliando a importância e os problemas de tal presença, permitirá uma reflexão maior sobre o padrão de produção das ciências sociais no Brasil e os temas que ocuparam a inteligência nacional. Em outras palavras, parte dos desafios que têm incomodado a ciência social não só no Brasil pode encontrar respostas para reavaliação de sua tradição.



[1] Maria Alice Rezende de Carvalho vem, desde a publicação do artigo “Temas sobre a organização dos intelectuais no Brasil” (RBCS, vol. 22, no. 65, pp. 17-31), reforçando o papel público da intelectualidade nacional, como no seu discurso de posse na presidência da ANPOCS em 2008.

[2] O discurso de Michael Burawoy foi publicado na American Sociological Review em 2005, conforme a tradição da Associação Sociológica Americana.

Programação:

Turno

Segunda (20/09)

Terça (21/09)

Quarta (22/09)

Quinta (23/09)

Sexta (24/09)

Tarde

(15-18h)

Mini-curso 01

“Políticas Públicas e Educação"

Rodrigo Ednilson de Jesus

(UFVJM)

Mini-curso 02

“Antropologia Urbana”

Douglas Mansur (UFV)

Mini-curso 03

“Antropologia da Religião”

Marcelo Camurça

(UFJF)

Mini-curso 04

“Pensamento Social Brasileiro”

Fernando Perlatto

(UFJF e CEDES)

Noite

(19-22h)

Abertura

Mesa 01

“Conjuntura nacional”

Bruno Reis

(UFMG)

Rubem Barboza Filho

(UFJF)

Jeferson Boechat

(UFV)

Moderação:

Daniela Rezende

(UFV)

Mesa 02

“A produção das Ciências Sociais no Brasil: temas e tendências”

Gláucio Soares (IUPERJ)

Renato Lima (SEADE)

Moderação:

Marcelo Durante

(UFV)

Conferência

“Trajetória Acadêmica e Vida Pública”

Luiz Werneck Vianna

(IESP-UERJ e CEDES)

Moderação:

Diogo Tourino de Sousa (UFV)

Mesa 03

“Desafios da Sociologia na investigação da Ciência e da Tecnologia”

Maíra Baumgarten

(UFRGS)

Tamara Benakouche (UFSC)

Moderação:

Daniela Alves

(UFV)

Mesa 04

“Corrupção e cultura política no Brasil”

Fernando Filgueiras

(UFMG)

Raul Francisco Magalhães

(UFJF)

Moderação:

Marcelo Oliveira

(UFV)

Maiores informações:

Departamento de Ciências Sociais da UFV: (31) 3899-3450

C.A. de Ciências Sociais - e-mail: cacisufv@gmail.com

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