Olá, boa tarde! Bastou o horário eleitoral gratuito de rádio televisão começar para que os novos personagens do que vem sendo chamado de “circo eleitoral”, ganhassem o conhecimento do grande público. A cada eleição uma infinidade de candidatos invade o cotidiano dos brasileiros, ocupando o restrito espaço que cabe aos postulantes dos cargos do Legislativo – deputados federais e estaduais –, com mensagens que oscilam entre o burocrático e o ridículo. A necessidade de chamar a atenção do eleitor em meio a um mar de candidatos indistintos, por vezes sugere a estratégia do ridículo como alternativa preferencial. Assim, slogans de impacto ou um visual assustador são algumas das pérolas com as quais o eleitor se diverte, indigna ou simplesmente ignora. No entanto, aos que se ocupam da política enquanto matéria de estudo ou reflexão, o dado é perturbador. Fruto de uma legislação eleitoral que cobra reformas, a pouca representação ideológica dos partidos se pulveriza numa salada de candidatos, dispersos em busca de votos e concorrendo, por vezes, contra membros do próprio partido ou coligação. Desnecessário dizer que a reforma política é um tema polêmico entre os parlamentares brasileiros, basta ver como o grande sucesso desta eleição, a lei da “ficha limpa”, foi construída pela sociedade civil e não pela representação instituída. Mesmo assim, a cada propaganda eleitoral que se inicia a constatação de que os discursos mobilizados em pouco se ocupam da politização da escolha desperta, no limite, para a necessidade de pensarmos com mais cuidado as eleições no país. O melhor exemplo do presente é, sem dúvida, o músico e comediante Tiririca, ambas as qualidades contestáveis, candidato pelo PRN de São Paulo ao cargo de Deputado Federal. Sua estratégia para “aparecer” ante o eleitor é assumir deliberadamente a postura de “palhaço”, no já alardeado “circo eleitoral”, encerrando sua aparição com o slogan: “Vote em Tiririca, pior do que está não fica”. A mensagem é despolitizada, despartidarizada e extremante perigosa no momento em que vivemos, onde impera a desconfiança nas instituições políticas e na própria classe política. Trocas eleitorais neste país tendem, historicamente, a ser dramáticas. Mas positivamente vimos nos últimos anos a consolidação da democracia entre nós, tendo como o resultado disputas sucessivas, imprensa livre, incremento dos mecanismos eleitorais, combate à corrupção, só para lembrarmos de alguns exemplos. Sempre digo que ainda temos muito por fazer. Porém, em meio a um processo eleitoral, quando a sociedade deve refletir questões cruciais da sua agenda, mensagens de descrença no que conquistamos de bom, como seu os meus exemplos fossem os únicos, não ajudam. Creio que o mundo sempre pode ficar pior, ou melhor, depende das nossas escolhas. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!
A coluna Cena Política vai ao ar todas as quintas (por volta das 14:30h), na Rádio Catedral FM 102,3.
5 comentários:
Confesso que me assustei com o tema da sua coluna! Ainda é difícil pra mim entender que vale falar sério sobre Tiririca e Mulher Fruta na política! Em todo caso, me parecem consequências imprevistas de nosso sistema eleitoral. Quem diria que um sistema que passou a privilegiar os votos para a legenda, ao invés de fortalecer a representação ideológica dos partidos (como fortalecer algo que inexiste?), levaria a candidatura de celebridades (Clodovil na última eleição) ou "aberrações" (na eleição atual)para arrastar os "reais" interessados. Exemplo de que mudanças na lei, se não representam demandas da realidade social vigente, também não geram mudanças efetivas na vida social. Podemos, entretanto, perceber Tirica como um caso extremo da despolitização e despartidarização da política - brasileira (?)- vigente, agora feita pelos próprios políticos "profissionais". Serra dizendo que cresceu na vila operária e andando de metrô por SP, Dilma sendo chamada de "mulher do presidente" em piadas das Organizações Globo, ou Marina-Evangélica virar a porta voz da moralidade - agora é ela quem dá a palavra final sobre o suposto dossiê de Pimentel/Receita Federal/filha do Serra/"omissão" de Mantega...enfim... Um palhaço no circo eleitoral é ultrajante, porém sintomático ou até mesmo, óbvio demais.
Parabéns pela coluna, não só essa mas tb as anteriores! Abraço, Diogo!
Bella, sempre grato pela leitura. O que mais me incomoda é o fato de que transformações legais tendem, por vezes, a ser insuficientes. A lei da "ficha limpa" é um bom exemplo: ardilosa no freio ao notoriamente corrupto, ainda que contra a soberania do sufrágio - ponto polêmico -, ela não resolve problemas de escassez de cultura cívica, valores democráticos e republicanos. Nem poderia resolver, seu papel é outro e estou, pasmem, disposto a reconhecer o seu valor. Mas Tiririca, Mulher Pera e congêneres são elegíveis! Quem os elegerá e por qual motivo são as questões com as quais temos, a partir de agora, que nos debater. Um abraço.
Diogo,
acho que você toca em um ponto muito importante na sua coluna que é a questão da Reforma Política. Apesar de alguns analistas dizerem que devíamos passar por uma ampla reforma eu já defendo a tese de reformas pontuais. Um dos pontos que acho que precisa ser reformado é o voto em lista aberta. A competição inter e intra partidária possibilita aberrações, como você bem ressaltou em seu texto, e em certo sentido, tais aberrações existem porque os caras competem dentro da lista.Torna-se uma competição de pessoas e não de idéias e projetos para o páis. A lista fechada, bem regulamentada,ao meu ver, incrementaria o debate de idéias e políticas. Um abraço!
Tal situação que deparamos no cenário político atual só me faz retomar as leituras de Weber sobre a situação dos partidos políticos de uma Alemanha reconstruída. Penso que no Brasil os partidos apresentam as mesmas configurações que dessa Alemanha, ou seja, um forte movimento de despolitização e despartidarização que afeta a todos, sociedade civil e política. Fatos como a candidatura de Tiririca e Mulher Pêra ilustram perfeitamente isso. Estamos caminhando em uma pista de mão dupla, em que por atos lastimáveis de certos políticos a sociedade civil aumenta incenssantemente sua descrença nessa esfera e no outro lado por uma descrença da sociedade civil, favorecemos essa despolitização e despartidarização no nosso cenário Político.
Capa da Época de semana passada:
"Tiririca, a cara do novo Congresso"
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI174609-15223,00-O+CONGRESSO+TIRIRICA+TRECHO.html
PS: até que enfim você vai reconhecer o valor do Ficha Limpa. rs. Ainda tenho que ler seu texto do Cedes. Abraço!
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