A coluna Cena Política vai ao ar todas as sextas (no jornal das 8h), na Rádio Catedral FM 102,3.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Uma oposição baratinada (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)
domingo, 10 de abril de 2011
Intolerância - Laboratório de Estudos Hum(e)anos
Diogo Tourino de Sousa (Cientista Político - UFV)
Há duas semanas o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) vem ocupando as páginas de discussão e redes de relacionamento na internet, motivo de indignação para boa parte da opinião pública. Isso porque, Bolsonaro é pródigo em declarações preconceituosas e homofógicas, figura já conhecida no cenário nacional que chega a sua sexta legislatura. O que de novo, no entanto, está acontecendo?
No caso recente, o deputado participou de um programa de TV, respondendo a questões que eram formuladas previamente por cidadãos nas ruas, incluindo, ao final, uma pergunta feita pela cantora Preta Gil sobre a possibilidade do casamento entre brancos e negros. Bolsonaro respondeu a todas transparecendo o que de pior pode existir no convívio democrático. Foi racista, preconceituoso, antidemocrático, para não dizer desonesto com a história do país no momento em que dirige críticas descontextualizadas ao passado da Presidenta Dilma. Em sua resposta a cantora, ele se disse livre de “promiscuidades” quando negou a possibilidade de um filho seu se casar com uma mulher negra.
Não vejo novidade alguma em se tratando de Jair Bolsonaro. Porque agora tais comentários reverberaram com tanta polêmica? Poderíamos supor que um dos motivos seja o programa onde tais declarações vieram à público. O CQC, em seu quadro “O povo quer saber”, é uma mistura de jornalismo com escracho, que há muito se mostra capaz de agregar certa insatisfação com a política nacional, com alguma dose de irresponsabilidade. Creio, porém, que há algo mais.
O Congresso Nacional vive hoje a tramitação de diversas pautas polêmicas, como a união homoafetiva, por exemplo, contexto que incitará o lado nada progressista, nem tolerante, da política brasileira. Contudo, esse é, a meu ver, exatamente o papel do Congresso: funcionar como um catalisador, trazendo para dentro dele a pluralidade de opiniões e suas disputas no interior da sociedade.
Digo isso porque acredito que as disputas no campo da política tendem a ser mais saudáveis do que as disputas fora dele. Seguramente não concordo com quase nada do que Bolsonaro diz, mas há um elemento importante para a democracia no momento em que ele o faz. E há um elemento ainda mais importante quando a opinião pública se mobiliza para combatê-lo.
Esta semana manifestantes foram a Câmara com cartazes contra as suas declarações. No momento em que problemas cruciais para o convívio plural na sociedade contemporânea são vocalizados no mundo público, seja por meio das declarações condenáveis do deputado, seja pela força da sociedade civil em combatê-lo, é como se tirássemos de debaixo do tapete desafios que havíamos escondido lá por incapacidade de resolvê-los. Bolsonaro não sabe, mas ao enfatizar sua postura preconceituosa, militarista e antidemocrática, sustentada por uma parte significativa da sociedade brasileira que nele deposita seus votos, ele acabou politizando “tabus”. E como a boa teoria democrática nos ensina, tabus devem ser discutidos e não silenciados.
Ao deputado, em nome do respeito à diversidade e da necessidade de discutirmos o que antes escondíamos, lembro do iluminista francês Voltaire: “posso não concordar com nada do que dizes, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-lo”.
Viçosa, 07 de abril de 2011.
Publicado originalmente no sítio do Laboratório de Estudos Hum(e)anos.
Para conhecer o sítio, clique aqui.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Amazonino e a sociedade civil (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Casamento estável? (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Vez e voz (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
O mesmo enredo (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
A Comissão da Verdade.
De todos os pronunciamentos que cercaram a posse de Dilma Rousseff, primeira mulher a assumir a Presidência da República, talvez o mais substantivo tenha sido o da ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes (PT-RS). Fora, é claro, o bom discurso proferido por Dilma no Congresso Nacional, Maria do Rosário fez mais do que floreios em seu primeiro pronunciamento a frente da Secretaria, recuperando um tema polêmico que já havia aparecido no governo Lula, quando da apresentação do seu Programa Nacional de Direitos Humanos. Trata-se da criação de uma Comissão da Verdade, responsável pela abertura dos arquivos do regime militar inaugurado em 1964. Lá atrás, Lula recuou ante a irritação das Forças Armadas acerca da possibilidade de revisão da Lei de Anistia, visto que a abertura dos arquivos poderia revelar eventuais crimes cometidos pelo regime militar, como a prática de tortura bem conhecida pela historiografia recente a partir de relatos dos sobreviventes. Sei que remexer nesse período dramático da nossa história pode causar espanto. Mas acho particularmente interessante a iniciativa da ministra Maria do Rosário de recuperar a Comissão da Verdade, com o objetivo de contar com mais dignidade a história do Brasil, preenchendo lacunas que podem evitar que episódios tristes como aquele se repitam. Não defendo a revisão da Lei de Anistia, como alguns setores da opinião apregoam. Isso poderia impedir que a “verdade” apareça. Acho, no entanto, que temos o direito de saber o que foi anistiado, quais foram os crimes cometidos, quem foram os responsáveis, quem financiou a repressão e muitas outras questões para as quais respostas dariam alento a quem sofreu. A memória de um povo não é feita só de alegrias e seus traumas podem impedir que mazelas se repitam. É oportuno Maria do Rosário retomar o tema, pois vivemos um momento cercado de simbolismos que atestam uma democracia madura, infensa aos perigos que antes colocariam em risco a sobrevivência das instituições. Pior do que nos depararmos com nossos traumas, é quando eles se tornam “tabus”, inauditos, silenciados, mas que continuam a nos ameaçar. Contemos nossa história com mais dignidade, é o que defendo.