quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Casamento estável? (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)


Olá, boa tarde! Foram eleitos esta semana os presidentes da Câmara e do Senado Federal, para um mandato de dois anos. A disputa manifesta a força de determinados partidos no quadro nacional e, sobretudo, a capacidade do governo de construir maiorias no Congresso. No Senado, José Sarney (PMDB-AP) ganhou com facilidade, sendo reconduzido ao cargo pela quarta vez. Fato que corrobora com o perfil conservador da casa, sem juízos de valor. Já na Câmara, Marco Maia (PT-RS) enfrentou, sem maiores problemas, o voluntarismo de alguns parlamentares. Mesmo assim, obteve 375 votos, bem mais do que precisava para ser eleito em turno único. Ambos os resultados recuperam um princípio não enunciado, mas legítimo: os partidos de maior representação parlamentar, obtida nas urnas, têm o direito de ocupar a presidência das casas no Poder Legislativo. Não é sempre, porém, que tal prerrogativa é assegurada sem disputas. Em anos recentes vimos como o exemplo mais esdrúxulo, a eleição de Severino Cavalcanti, personagem do atraso imposto pela oposição no interior da Câmara como desafio ao poderio do governo. A piada que Severino representou foi de muito mau gosto, ao ponto do mesmo ser deposto em curto período de tempo. No presente o cenário é mais ameno para as intenções governistas. PT e PMDB conseguiram a presidência das casas, desenhando costuras dentro do possível e rechaçando distensões, como é o caso da candidatura oposicionista de Sandro Mabel (PR-GO), que contrariou a determinação do seu partido de apoiar a Maia e será, agora, alvo de um processo disciplinar. Com isso, PT, o partido da presidenta Dilma, e PMDB, a legenda do seu vice Michel Temer, saem vitoriosos. Muito se falou durante as eleições presidenciais que Dilma, à época candidata, não teria habilidade política para negociar. A comparação com o Lula era inescapável. Ao mesmo tempo, a presença de Temer na chapa não recebeu a devida atenção. Ele é o homem da construção de maiorias, não necessariamente por meios consensuais. Sua habilidade se manifesta, antes, dentro do seu próprio partido, um celeiro heterodoxo de orientações ou falta de, que sempre requer arbítrio em suas decisões. Sem falar, é claro, do político de sólida carreira parlamentar. Creio ser sua fidelidade um bom termômetro. Assim, aos que duvidaram da estabilidade do novo governo fica o recado: o casamento entre PT e PMDB começou bem. Resta saber se terá, como os casamentos em geral, um final triste. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!

Um comentário:

Robson Rocha disse...

Será que não se trata de uma estabilidade precária e contingencial? Não te parece que a fidelidade de Temer está totalmente condicionada pelos interesses dos sempre descontentes dirigentes do PMDB ? Não sei, mas acho o PMDB um tendão de Aquiles, mais do que um aliado e o caso da briga por cargos de segundo escalão no início do Governo indica esta condição, já que, ainda que ela tenha sido bem contornada, isso talvez se deva mais ao fato de ter ocorrido num momento inicial e estável. Provavelmente não teria ocorrido o mesmo em outras situações, porque, num momento mais delicado tudo parece poder se inverter prontamente.