A semana começou com as imagens do prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB), discutindo de forma truculenta com uma moradora da comunidade de Santa Marta, na zona norte da cidade. Na ocasião, Amazonino visitava áreas soterradas pela chuva quando foi questionado por uma dona de casa sobre as providências a serem tomadas pela prefeitura, reforçando a carência dos moradores que, em tese, justificaria sua necessidade de residir em áreas de risco. Amazonino não titubeou ao dizer “então morra”, sem falar, é claro, na declaração preconceituosa em relação aos paraenses, estado natural da cidadã que o questionava. Mais perversa ainda é continuação da cena, quando o prefeito é alertado sobre sua inabilidade e parte, sem ressalvas, para uma política de cooptação aberta dos moradores. Amazonino promete, na tentativa de contornar o ocorrido, remover os moradores para um terreno novo, beneficiando-os com material de construção e, enquanto isso, pagaria o aluguel de todos até que uma “solução” definitiva fosse encontrada. Na seqüência, sob ovação, Amazonino declara: “de agora em diante eu sou o pai de vocês”. O episódio é mais do que corriqueiro e carrega, creio, elementos importantes para compreendermos os resquícios do que de mais atrasado sobrevive na política brasileira. A moradora, mulher, dona de casa, que se insurgiu contra a truculência e a veleidade de promessas vazias é marca de uma sociedade civil que se torna cada vez mais robusta. Coberta pela imprensa, ávida por escândalos, mas ferramenta importante na democracia, ela, a cidadã, questiona e manifesta carências. Ele, o prefeito, exemplar da política tradicional, destila inabilidade para o convívio democrático. Sua tentativa de colocar os moradores contra aquela que insurgiu é escancarada, quando ao final das “promessas” Amazonino reforça a presença de “ignorantes” discutindo com ele na sua chegada. Confesso que fiquei consternado com a brutalidade do prefeito, mas feliz com a presença de personagens na sociedade capazes de se erguer. Sinal dos bons tempos que talvez tenham vindo para ficar, somente a consolidação da sociedade civil, da sua capacidade de se organizar, vocalizando no mundo público demandas e respeitando as regras do jogo democrático, fará com que as seqüelas do atraso sejam definitivamente superadas. A propósito, Laudicéia Ramos é o nome da moradora verbalmente agredida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário