Outro dia ouvi, numa situação não muito próxima da presidenta Dilma, uma mulher, com pouco estudo e muita coragem aparente, dizer: “é importante para nós, mulheres, que tenhamos mais mulheres no poder”. Na ocasião, minha interlocutora falava sobre a sucessão de um cargo administrativo, não necessariamente ligado à política. O fato, em nada corriqueiro há alguns anos, atiçou em mim a percepção de que uma democracia se faz, realmente, de simbolismos. E a eleição de Dilma já é, neste ponto, uma conquista. Digo isso, porque independente do governo que vem pela frente sua vitória permite com que certas bandeiras, antes silenciadas, possam agora ser vocalizadas por personagens diversos da sociedade civil. Não falo apenas na questão da mulher, mas penso na possibilidade que setores excluídos têm, mais agora do que nunca, de se expressarem. Talvez o perfil de Dilma contribua. É quase consenso entre os analistas que a presidenta não desempenha o cargo investida das mesmas características do seu antecessor. Lula era presença quase certa nos noticiários, emitindo juízos sobre questões diversas e tragando, com força, a sociedade para dentro do seu governo. No governo Lula todos, ou quase todos, tiveram voz. Mas hoje, a impressão que temos é a de que a voz de todos era, no fim, a voz de Lula que soube, é certo, falar por muitos. Agora, no entanto, o país que avançou na redução da desigualdade e na ampliação do acesso a um mundo antes inatingível para a grande maioria dos excluídos, como no caso da educação superior, por exemplo, precisa andar com as próprias pernas. Se até aqui fomos guiados por um Estado, que quando benevolente nos concedia privilégios e atenção aos nossos desejos e carências, falta agora sermos capazes de correr atrás de nossas demandas de maneira autônoma. O simbolismo que cerca Dilma, a primeira mulher a ocupar a presidência da República, pode, de alguma forma, ser a centelha desse processo. Momento em que a sociedade civil fala, como fala a mulher que reivindicava mais espaço para as mulheres, que há pouco mencionei. Só assim, com o avanço da cultura cívica, a consolidação do sentimento democrático e o reforço da sociedade civil nós saberemos andar com as próprias pernas, independendo da vontade do Estado em atender ao que precisamos. O presente é bom, que o aproveitemos para um futuro melhor, onde aqueles que não podiam falar passem a ter vez e voz.
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