quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A vitória de Dilma (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)


Olá, boa tarde! O assunto de hoje não poderia ser outro: a vitória de Dilma Rousseff (PT), a primeira mulher eleita presidente do Brasil. O fato traz grandes implicações para a sociedade brasileira e a política no país. Dilma, em seu primeiro pronunciamento depois do resultado, fez questão de ressaltar temas que haviam sido mobilizados durante a campanha sem, no entanto, o correto tratamento na opinião de muitos. Todos sabem que o momento eleitoral é em muito distinto do momento de governo, e o discurso da presidente eleita no domingo manifestou tal distinção. Uma coisa é defender certas posições e mudar, inclusive, algumas delas na busca por votos. Outra, bem diferente, é governar. E se em política o tempo não poder ser desperdiçado, sob pena de não podermos voltar atrás em decisões tomadas, Dilma aproveitou bem o seu primeiro pronunciamento para marcar posição num campo que parecia minado antes do resultado. Alguns pontos merecem destaque. O primeiro deles, não por acaso, foi o mesmo com o qual a presidente iniciou a sua fala: o fato de ser ela mulher e como isso não deveria passar despercebido numa sociedade que ainda contabiliza altos índices de violência contra as mulheres. Violência simbólica – expressa no não reconhecimento de direitos, no tratamento desigual nas relações familiares e de trabalho –, ou mesmo física, em agressões muitas delas silenciadas pela negligência das autoridades ou medo da reincidência. Se no momento eleitoral Dilma era a “mãe do Brasil”, clara alusão ao “pai do povo” que encerrará seu governo em dezembro, no momento de governo ela diz aos setores da opinião que a acusaram de ignorado tal simbolismo que ela é mulher. O segundo tema para o qual chamo a atenção é o da liberdade de imprensa. Agora a mulher revestiu-se, também, de militante pela democracia no país em tempos de repressão, lembrando que dedicou a juventude e colocou a vida em risco pela liberdade. Experiência que faz com que ela prefira “o barulho da imprensa livre, ao silencia das ditaduras”. Por último, a liberdade de culto religioso. Talvez o tema que mais atiçou paixões tenha sido o debate acerca da descriminalização do aborto. Não pretendo me posicionar. Lembro, apenas, da menção que Dilma fez ao assegurar a laicidade do Estado no seu governo. Findo o momento eleitoral, esperamos que o momento de governo não seja contaminado pela pobreza do debate que vimos nas campanhas. Esperamos, por certo, que o tom acompanhe o primeiro discurso de Dilma. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!

Um comentário:

Bella Mendes disse...

Muito bom seu texto!!! Gostei muito do discurso da Dilma, talvez a primeira vez que eu tenha gostado muuuuuuito de escutá-la! Engraçado que no domingo seguinte às eleições, Patrícia Poeta foi entrevistar a mãe de Dilma, em Belo Horizonte, não sei se você viu. "De repente", a terrorista, criminosa, que assaltou bancos no passado virou "militante pela democracia". A candidata do Lula que teria usado o câncer como espetáculo (segundo a Veja, que eu preferia achar que não é parâmetro) virou uma mulher sofredora, mas forte, que venceu a luta contra a doença. De fato, sua frase final exprime um forte desejo e esperança: que o momento de governo não seja contaminado pela pobreza do momento eleitoral. Abraço!