Findo o período eleitoral observamos, com graus variados de insatisfação, reincidir na agenda pública o óbvio: como serão preenchidos os cargos no próximo governo. Os personagens se movimentam – partidos e suas lideranças –, em busca dos principais postos de comando, ministérios “ricos” e que tenham a ele ligadas poderosas estatais. O que de ordinário não surpreende, porém, incomoda. A manchete da semana aponta a tentativa do PMDB, partido ao qual pertence o vice-presidente eleito, Michel Temer, de “emparedar” Dilma Rousseff (PT) na escolha de sua equipe de governo. Tentativa de pronto rechaçada pelo presidente Lula, receoso dos perigos que a formação de um “blocão” – como vem sendo chamada a coalizão entre PMDB, PP, PR, PTB e PSC –, pode causar para o novo governo. Lula é um articulador hábil e pragmático. Sua popularidade ao final de 8 anos de governo indica, sobretudo, a capacidade que teve de navegar em águas turbulentas de maneira relativamente tranqüila, contornando as desavenças do cotidiano. A principal delas já se revela, nem tão cedo assim, para Dilma, que por sorte ainda conta com o prestígio do seu antecessor no controle dos atores. Falo da necessidade de negociação com os partidos de maior representação no Congresso Nacional, sem o que um presidente não governa, sem o que um presidente pode, no limite, ser deposto. O PMDB sai vitorioso das urnas em 2010. Por um lado, DEM e PSDB perdem muito em quantidade e qualidade. Bancadas menores, menos estados e quadros significativos para a história de ambos os partidos não se elegeram. Por outro, emplaca o vice na chapa vitoriosa, e não qualquer vice. Trata-se de Michel Temer, homem do Congresso, prócer na negociação no interior do Legislativo, homem da política ordinária que pode ajudar, ou atrapalhar. Sua presença na chapa apaziguou aqueles que desconfiavam da perícia de Dilma no campo da negociação. Isso porque, possuir experiência administrativa não confere, como vimos, destreza eleitoral e nem política. Essa lacuna foi preenchida, no momento eleitoral, por Lula, e promete ser superada, já no momento de governo, por Temer. Mas e se o aliado se tornar inimigo? Como em toda eleição, o voto é uma aposta. Cabe à sociedade civil tornar essa aposta menos insegura no momento em que se apresentar como ator capaz de impor sua pauta no mundo da política. Do contrário, o tema menor da ocupação dos cargos públicos em benefício deste ou daquele partido, comportamento surdo aos problemas concretos do país, cobrará de nós a passiva fé de que um dia as coisas serão melhores.
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