Olá, boa tarde! A polêmica criada em torno dos erros cometidos durante a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) no último final de semana tem e não tem razão. Assim como no ano anterior, falhas na organização do exame colocaram em xeque sua credibilidade como mecanismo alternativo de ingresso nas instituições de ensino superior do país, minando, de alguma forma, o projeto do atual Ministério da Educação. Todos os envolvidos com a discussão sabem que nos últimos anos o MEC tem se empenhado na redução do gargalo criado pelo vestibular no ingresso nas universidades do país. Projeto que seguramente desagrada a indústria criada em torno do vestibular, sem falar, razão mais profunda, na radical mudança que a ampliação do acesso ao ensino promoverá na estrutura da sociedade brasileira. Não eximo o governo de culpa, pois falhas grosseiras, seja na impressão das provas, seja na instrução dos aplicadores, confundiram boa parte dos alunos. Mas creio que se tem feito uso demasiadamente político, em chave menor, dos percalços enfrentados pelo ENEM. De cara acho no mínimo estranho que uma prova dessa magnitude encontre problemas tão primários, como erro na impressão de cabeçalhos ou vazamento (ocorrido no ano anterior). Prato cheio para a imprensa e para setores da oposição, ávidos em promover interpretações variadas das declarações do presidente Lula e do ministro Fernando Haddad, por vezes colocando um contra o outro, e todos contra o governo. Mas assim como em outros episódios dessa natureza, acho importante mobilizarmos fatos isolados numa sincera inflexão sobre a sociedade brasileira. Duas questões me parecem centrais: qual a importância do ENEM? A quem ele incomoda? A mesma opinião pública que no presente execra o MEC como um “trapalhão” reincidente, descreve a educação como entrave para que o Brasil alcance melhores índices de desenvolvimento e redução da desigualdade. Educação, aliás, apontada por organismos internacionais como o obstáculo a ser superado no país, que mesmo tendo contornado os problemas econômicos, ainda esbarra na questão social. O ENEM, salvo seus erros pontuais, é uma tentativa sincera de transformação e ampliação do acesso ao ensino superior, que pode ou não dar certo. Ensino esse ainda elitizado, a despeito da atuação do REUNI, pelo cruel e temido vestibular, mecanismo ultrapassado de seleção que privilegia qualidades questionadas por boa parte dos educadores, não dos empresários da educação. Que os erros sejam contornados. Mas acho que não devemos jogar fora a criança com água do banho, e sim valorizar tentativas bem intencionadas de melhoria do ensino no Brasil. Se der errado, pensemos outras. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!
2 comentários:
Seria boicote?
Sem querer entrar numa de "teoria da conspiração", mas a ideia do boicote também me veio nesse último episódio. Concordo com seu argumento: por não fazer parte da indústria do vestibular, o Enem incomoda. Lembro de que, há 8 anos atrás, quando fiz vestibular, poucas universidades eram adeptas ao Enem como forma alternativa de ingresso. Me parece que cada vez que o Enem avança, expandindo o número de universidades que aderem a ele, "coincidentemente" crescem as falhas grotescas - e, de lambuja, as críticas pesadas, que jogam fora o bebê com a água, como você disse. Parabéns por mais esse texto, Diogo!
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