Olá, boa tarde! A semana que antecede o carnaval começou, no domingo, marcada não apenas pelas festividades costumeiras, mas também por uma nova intervenção pública do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) nos jornais de grande circulação do país. Trata-se do artigo de sua autoria, intitulado “Sem medo do passado”, onde ele faz o que até agora parecia que ninguém teria coragem de fazer: defender seus oito anos de governo. Não que eu considere tal defesa totalmente impossível. Mas diante da popularidade do presidente Lula, alimentada pelo inequívoco sucesso do seu governo em diversos setores, contexto que permite com que Lula repita, sem medo, “nunca antes na história deste país” mesmo quando o assunto é o combate à corrupção de seus próprios correligionários, defender o período tucano que antecedeu a chegada do Partido dos Trabalhadores ao poder tornou-se tarefa inglória. Ao que parece, não para Fernando Henrique. Quando li o artigo minha maior expectativa era com relação aos seus desdobramentos, especialmente no modo como o próprio autor se comportaria diante da reação do governo. Isso porque, da última vez que FHC opinou neste cenário que pode, sem medo, ser classificado como eleitoral, com o artigo “Para onde vamos?” publicado em novembro e comentado nesta coluna, ele se defendeu dizendo ser um intelectual isento e livre para manifestações sobre a conjuntura nacional. Não é bem assim e acho que no recente posicionamento do ex-presidente podemos enxergar uma virtude até então ausente: a coragem. De fato, até o presente ninguém havia abertamente aceitado a “armadilha” que o presidente Lula e os articuladores da campanha de Dilma Rousseff à presidência supostamente preparavam, resumindo as eleições de 2010 a um plebiscito do atual governo, o que para a maioria dos especialistas significaria uma derrota acachapante do PSDB no pleito. Pelo visto o silêncio tucano incomodou o ex-presidente, enquadrado pela crítica como o protagonista da “era neoliberal”, que prescindindo de qualquer autorização fez o óbvio: se defendeu. Ainda que os caciques tucanos não assumam, a postura tomada por FHC pode ter agradado ao presidente Lula que vem forçando tal comparação, até então num monólogo. Se Dilma colherá os frutos só saberemos em outubro. Mas uma coisa é certa: Lula encontrou um interlocutor e nós ganhamos com isso, concordando ou não com as partes em disputa. É bom que o debate eleitoral se qualifique e ao assumir a postura de ator Fernando Henrique deixa, sem medo, claro quem ele é. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!
A coluna Cena Política vai ao ar todas as quintas (por volta das 14:30h) na Rádio Catedral FM 102,3.
Para ler o artigo "Sem medo do passado", de Fernando Henrique Cardoso (puclicado no jornal O Globo em 07 de fevereiro de 2010), clique aqui;
Para ler o artigo "Para onde vamos?", de Fernando Henrique Cardoso (publicado no jornal O Globo em 01 de novembro de 2009), clique aqui;
Para ler a coluna Cena Política "As regras estão estabelecidas, mas o jogo ainda será jogado", que comenta o artigo e a reação de Fernando Henrique (publicada neste blog em 12 de novembro de 2009 e no jornal Tribuna de Minas - JF em 13 de novembro de 2009), clique aqui.
Um comentário:
Diogo,
li o artigo no Globo e quase não acreditei no que vi. "Nunca antes na história desse país" vimos um ex-presidente se defender tão descaradamente. Será que FHC, ao afirmar que Lula, "para ganhar sua guerra imaginária distorce o ocorrido no governo do antecessor", não pensou nas consequências de abrir "diálogo" com a oposição? Agora só lhe resta mesmo arcar com os possíveis resultados. Deveria ter agido como as mulheres, quando ouvem uma "cantada" desaforada: fingem que não ouviram e continuam andando. Mas ai delas se abrem discussão com o marmanjo...
Beijo!
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