Olá, boa tarde! Nas últimas semanas articulistas, intelectuais e políticos demonstraram certo desassossego com a publicação do artigo “Para onde vamos?”, de autoria do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). No texto, o autor critica o governo Lula, sugerindo que o personalismo com o qual o presidente trata a política seria responsável por “pequenos assassinatos” da democracia, ao ignorar desvios de conduta e arranhões na lei responsáveis, no limite, por um “subperonismo (o lulismo)”. Acusação que foi energicamente rebatida pela ministra Dilma Rousseff (PT) e demais partidários do presidente, implantando aparente desconforto na imprensa. O curioso é notarmos que grande parte da sociedade permaneceu à margem desse debate, como se entre a “opinião pública” e a “opinião publicada” – tema caro àqueles que pensam a comunicação nos dias de hoje –, houvesse um hiato insuperável. O fato, é que na última segunda-feira (09/11/2009), numa homenagem realizada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) ao vice-presidente José Alencar, Lula forjou mais uma declaração para apimentar o debate sobre sua suposta propensão “autoritária”. Ao se dirigir elogiosamente a Alencar, ele disse: “nós dois até que agüentaríamos mais cinco anos de batalha, mas somos democráticos, estamos quietos e vamos esperar o jogo ser jogado”. Pessoalmente ouvi de bom grado mais um dístico popular pronunciado pelo presidente, dentre os muitos que ouvimos nos últimos 7 anos de governo. Entretanto, setores da “opinião publicada” rebelaram-se, ressaltando o “perigo” das declarações, que segundo alguns manifestariam uma vontade íntima de rever as regras do jogo às vésperas da decisão. Dentre as críticas, uma me chamou particular atenção ao afirmar que “qualquer cidadão comprometido com as normas democráticas sabe que não há nada o que esperar, [pois] o jogo já está jogado e as regras já estão estabelecidas”. Posso estar enganado, mas antes de qualquer jogo ser jogado devemos, de maneira inequívoca, estabelecer suas “regras” no fito de evitar que casuístas revejam as normas a seu favor. Lula pode até ter revelado, em tempos recentes, um pendor “autoritário”, como atores engajados têm apontado. Pode, mas não por isso. O presidente é mais um ator e também pontua sua opinião dentre as muitas que circulam, sem necessariamente alinhavar no horizonte um “golpe” a toda hora. Lula, como FHC, também está jogando, pode ganhar e pode perder. E no caso das eleições de 2010, as regras já estão estabelecidas, mas o jogo ainda não foi jogado. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!
A coluna Cena Política vai ao ar todas as quintas (por volta das 14:30h) na Rádio Catedral FM 102,3.
Para ler o artigo "Para onde vamos?", de Fernando Henrique Cardoso (publicado no jornal O Globo, dia 01 de novembro de 2009), clique aqui.
Para ler o artigo da "opinião publicada" que motivou a coluna desta semana, intitulado "Jogo jogado", de autoria de Merval Pereira (publicado no jornal O Globo, dia 11 de novembro de 2009), clique aqui.
Um comentário:
Além do que, é bom que seja lembrado, quem patrocinou mudança nas regras do jogo, e em benefício próprio, foi o nosso queridíssimo ex-presidente FHC. E nada direi quanto aos rumores do “custo” para convencimento do Congresso Nacional para a reforma constitucional que permitiu a reeleição.
Sou contra reeleições para cargos executivos, mas não vejo muita diferença entre uma, duas ou mais reeleições. Trata-se, ao meu ver, da mesma diferença que há entre quem rouba um ou dois milhões: um roubou mais, mas todos os dois são ladrões.
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