Olá, boa tarde! A novela que acompanha a discussão do projeto “ficha limpa”, que torna inelegíveis pessoas que respondem a processos na Justiça, está cada vez mais distante do fim. O que é bom e ruim. Digo isso, porque se a corrupção é um mal que devemos combater, eu particularmente não considero o projeto em questão a melhor alternativa para alcançarmos uma vida republicana saudável. Sei que essa é uma posição perigosa, até porque os defensores do projeto atendem aos apelos da opinião pública em seus anseios mais moralistas, encontrando os culpados pelo mal, e ao mesmo tempo quem irá nos redimir. Por um lado, os meios de comunicação bombardeiam a sociedade com periódicos escândalos de corrupção, sempre recheados com alta qualidade de som e imagem, mostrando como os responsáveis pelo problema, quase sempre homens da política e empresários inescrupulosos, não se movem para resolvê-lo, contando, ainda, com a conivência de “colegas” que preferem fazer “vista grossa”. O recente caso da eleição do presidente da Câmara do DF serve bem de exemplo: por meio de um consenso não se sabe com base em quê, um partidário de Arruda foi alçado ao posto para evitar que o governador sofra danos maiores; por outro lado, novos atores da vida democrática, falo especialmente dos operadores do direito e suas entidades representativas – como a Associação dos Magistrados Brasileiros, o Ministério Público e seu movimento de democratização –, apresentam-se para a sociedade como figuras idôneas, livres de qualquer imperfeição cotidiana, presentes, vale ressaltar, na política. Na mesma semana em que a Câmara Federal não conseguiu dar andamento ao projeto “ficha limpa”, Gilmar Mendes, presidente do STF, compareceu a cerimônia de abertura dos trabalhos legislativos e reafirmou que a Justiça no país é, digamos, quase “divina”, ainda que conviva com uma lentidão “pontual”. É fácil enxergarmos o saldo final: políticos não prestam e deveriam, como os homens da Justiça sugerem, ir para a cadeia. O problema é que essa não é uma matemática simples. A Justiça também tem os seus problemas e o excesso de demanda criado em cima da sua crescente visibilidade não pode ser ignorado. A cada dia aumenta o número de processos sobre temas polêmicos e seguramente decisões administrativas não são o melhor caminho para incrementarmos os valores democráticos. A política é o caminho! Mas por que a sociedade pensa exatamente o contrário? Acredito que o motivo é bem representado pela discussão em torno da “ficha limpa”: ao invés de propor mudanças substantivas para controlar a corrupção desde o processo eleitoral, como a discussão do financiamento de campanha para impedir a entrada irrestrita de dinheiro e empresários nas eleições, os parlamentares preferem revolver assuntos inócuos, declinando do seu papel republicano. Sobra para o Judiciário. Ou a política assume o seu lugar, ou a sociedade continuará achando que ela não serve para nada. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!
A coluna Cena Política vai ao ar todas as quintas (por volta das 14:30h) na Rádio Catedral FM 102,3.
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