sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sujeira generalizada (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)


Há muito tempo Demóstenes Torres já era um ex-senador. Sua cassação, consumada na tarde de quarta-feira depois de um melancólico e auto-centrado discurso de defesa, apenas oficializou o que todos já sabiam e aguardavam. Isso porque, Demóstenes já havia sido abandonado pelos amigos, aliados, pela imprensa e pelo próprio partido. Perambulava pelos corredores do Senado causando um desconforto, pois ninguém queria ser visto com ele. O antigo arauto da moralidade, assíduo freqüentador das páginas dos jornais apontando o dedo para supostos corruptos passou, ele próprio, a ser estampado nas colunas como o pivô de escândalos políticos. Quarta, no seu discurso de defesa, alertou os mais jovens: cuidado, não façam como eu fiz, não assumam a defesa da moralidade, pois isso pode, num futuro próximo, deixá-los sozinhos. O ato final de Demóstenes na casa trouxe consigo a pior das mensagens: estão me cassando porque eu, inadvertidamente, quebrei o coleguismo e denunciei meus colegas. Nunca gostei do moralismo rasteiro com o qual Demóstenes e muitos outros achavam que seriam capazes de fazer política. Ao invés de construírem alternativas para modelos questionados, ele e outros ocupavam-se da estratégia perigosa de desestabilizar adversários nas páginas policiais. Não afirmo com isso que o combate à corrupção possa ser deixado de lado. Entretanto, a crença na política e em suas instituições nada ganha com o que ocorreu. A cassação de Demóstenes Torres e seu desesperado apelo na tribuna causam a inevitável impressão na sociedade de que ali “ninguém se salva”. Ainda mais quando lembramos que o único senador cassado antes de Demóstenes foi Luis Estevam, em 2000. Por um lado, reconheço a virtude de mecanismos recém-inaugurados na política brasileira, como a lei da ficha limpa, que cancelaria os direitos políticos do ex-senador ainda que ele renunciasse para evitar a cassação. Mas por outro, o episódio incomoda ao difundir um clima de sujeira generalizada. Aquele que antes pautava sua conduta na defesa da moralidade é, ele próprio, cassado por quebra de decoro parlamentar. Ou, em outras, por ter sido imoral. E ainda diz, ao sair, que não sobra ninguém, pois estaria sendo perseguido pelos senadores pelo simples motivo de outrora tê-los perseguido. Antes de me perguntar quantas cabeças ainda vão rolar no episódio Carlinhos Cachoeira, prefiro cobrar que o Congresso Nacional ocupe-se mais com tentativas honestas de correção da estrutura, como a lei da ficha limpa e o controle do financiamento de campanhas, por exemplo, e não em ficar apenas agindo pontualmente no enfrentamento do que pior ele produz: corruptos. Porque se assim for, Demóstenes estará sempre certo: não se salva ninguém. 

A coluna Cena Política vai ao ar todas a sextas (no jornal das 8h), na Rádio Catedral FM 102,3.

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