O
embate gerado pelas polêmicas declarações do secretário geral da FIFA, o francês Jérome Valcke, dizem muito sobre o modo como o Brasil se entende
hoje e, sobretudo, quer ser entendido no mundo. Episódio que serve, ainda, para
pensarmos nos ganhos que eventos de grande porte, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas,
promovem nos países onde ocorrem. Lembremos os fatos. Diante do atraso na
votação da chamada lei da geral Copa,
medida extraordinária que regulamentará os jogos no país, pois já temos um Estatuto do Torcedor que será deixado
momentaneamente de lado, o secretário da
FIFA disse que o país precisava “levar um chute no traseiro”. Aldo Rebelo, ministro dos esportes,
imediatamente reagiu, dizendo não ser mais Jérome
Valcke um interlocutor, colocando como condição para a continuidade dos
trabalhos a substituição, por parte da FIFA,
do seu representante no Brasil. A entidade, por sua vez, teria contratualmente
o direito de retirar a copa do Brasil
até o meio do ano, transferindo o evento para outro país mais “dócil”. Logo,
alguns, ainda abalados por aquilo que Nelson
Rodrigues chamava de “complexo de
vira-lata”, criticaram Aldo Rebelo,
talvez por seu “orgulho” exagerado. Assim como numa briga entre amigos, a turma
do “deixa disso” não tardou em aparecer, com pedidos de desculpas que aguardavam,
até agora, apenas o aceite do próprio ministro. Não é de hoje que sabemos que
eventos como a copa trazem inúmeros benefícios para os países onde ocorrem,
como o incremento dos meios de transporte, a melhoria dos estádios, grandes
lucros com o turismo, além da própria visibilidade do país e do incentivo ao
esporte. A dúvida que persiste, no entanto, é sobre a durabilidade desses benefícios. Não precisamos ir longe. A copa da África do Sul, ocorrida em
2010, primeira realizada naquele continente, transformou o país nos dias que
circundaram o evento, com melhoras inclusive no sistema judicial. Apesar disso, dois anos após o término da
competição discute-se a demolição de alguns dos milionários estádios erguidos, antes sua inutilidade num país que
tem pouco apreço pelo futebol. Nosso caso é, por certo, diferente. Aqui o futebol é paixão nacional. Mas o exemplo, a meu ver, é o mesmo: a FIFA parece uma “nave espacial” que pousa no país, promove suas transformações e,
depois, vai embora. Os desdobramentos do que fez pouco importam. No fato
recente, o soberano Congresso Nacional discute
uma lei que afetará a realização do evento no nosso território e a entidade quer “dar as cartas” também nisso.
Certamente Câmara e Senado têm os seus defeitos e barganhas
pautadas por interesses nada nobres podem motivar atrasos e retrocessos. Ainda
assim, perdoe-me o Sr. Jérome Valcke,
mas Aldo Rebelo está certo e não somos “vira-latas” para tomar um “chute no traseiro”. Aqui quem dá as cartas somos nós!
A coluna Cena Política vai ao ar todas as sextas (no jornal das 8h), na Rádio Catedral FM 102,3.
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