Foi Maquiavel quem, no
século XVI, disse que a política era
o reino da mentira. Por vezes mal
interpretado, o pensador florentino queria, com tal afirmação, mostrar como a política constitui um campo de ação
regido por regras próprias, que pode exigir certas “mentirinhas”. Faz-se isso muito na política. Não necessariamente
com o objetivo de enganar alguém.
Mas, para amenizarmos o desconforto com a palavra, mente-se com o objetivo de convencer alguém, de iludir no bom sentido (caso exista). A
grande “mentirinha” contada na
largada da corrida para a prefeitura de Juiz de Fora é, a meu ver, o tema da renovação. Ainda que a cidade clame por
ela, reverberando, a cada ano eleitoral, sua necessidade, novamente seu uso nas
campanhas parece ser um instrumento
retórico. A despeito de alguns candidatos o mobilizarem abertamente,
tentando, com graus variados de sucesso, incorporar o “novo”, o peso da tradição
faz-se presente de maneira sutil, imperceptível se nos apegarmos apenas ao que
é dito. Basta observarmos como, agora em 2012, novamente o baú do passado foi aberto com o objetivo de atualizar o presente. Margarida Salomão (PT),
primeira colocada nas pesquisas, convidou, ao lado de Lula e Dilma, Tarcísio Delgado como apoiador.
Experiente político da cidade, Tarcísio já teve a própria Margarida como
secretária de governo em administrações passadas, e no presente se desfiliou do
PMDB, depois de 46 anos de
militância, para apoiar a candidatura petista. O jovem Bruno Siqueira (PMDB), quem melhor incorporaria o “novo”, vive o dilema de ter que
mobilizar o “velho” na tentativa de
não espantar eleitores inseguros.
Para tanto, invoca o legado de Itamar
Franco, que em vida já o havia eleito seu continuador. Já Custódio Mattos (PSDB), atual prefeito,
naturalmente nega a renovação e
recorre ao tema da experiência
administrativa como trunfo. Seguindo o perfil do seu partido, Custódio
enaltece seus feitos, convidado a si mesmo como estratégia, mas prometendo ir
além, em razão da alta rejeição que enfrenta. Malgrado tudo isso, o tema do
novo persiste. Margarida o quer, em parte. Bruno o teme. Custódio o nega, também parcialmente. Apenas as candidaturas mais abaixo nas
intenções de voto – PCB e PSTU – recorrem ao “novo” de maneira
confortável, utilizando, porém, argumentos de corte mais drásticos do que o
eleitorado médio costuma aceitar. Nessa direção, se Maquiavel dizia que a política
é o reino da mentira, ela é, por
extensão, o reino da desconfiança. E
desconfio de que o novo não será, novamente, decisivo este ano.
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