Olá, boa tarde! As eleições contam, quase sempre, histórias muito particulares. Não por acaso, aqueles que se ocupam com a política tentam, muitas vezes sem sucesso, antecipar qual será a história da próxima disputa. Mesmo que as apostas sejam incertas, acredito que a tônica do processo eleitoral presente já esteja bem definida, como podemos observar na propaganda eleitoral gratuita que começou na última terça-feira. O presidente Lula disse, em entrevista à revista Istoé, estar muito satisfeito com o fato de que vivemos uma disputa eleitoral na qual nenhum dos concorrentes se coloca contra ele e o seu governo. Sem dúvida, Lula também defende seus interesses nas eleições em curso, tem sua candidata, está do lado de alguém. Mas sua declaração aponta uma interessante pista para entendermos porque todos os candidatos – inclusive aos cargos dos executivos estaduais, Senado e deputados – reivindicam o seu legado. Em 1994 e 1998, o controle da inflação garantido pelo sucesso do Plano Real deu a Fernando Henrique Cardoso (PSDB) a vitória. O próprio Lula afirma que naquela situação qualquer um seria derrotado, não por FHC, mas pelo Plano Real. Em 2002 e 2006, o clamor pela mudança, com a manutenção da estabilidade conquistada nos anos anteriores, fez de Lula (PT) o presidente da República. Depois de acumular três derrotas, Lula aceitou os termos da disputa na sua famosa “Carta ao povo brasileiro”, onde tranqüilizou o mercado e a sociedade como um todo, sagrando-se vencedor do pleito. Naqueles anos, bem como nos anteriores, as eleições tinham uma tônica e qualquer candidato que se colocasse contra ela seria derrotado. Em 2010, novamente, o enredo está dado e o tema será a ascensão social. A transformação estrutural pela qual a sociedade brasileira passou nos últimos anos vem fazendo com que uma enorme fatia da população reivindique inclusão, aumento do poder compra, ensino superior, igualdade. Uma inclusão complexa que me parece ter sido muito bem compreendida pelo governo Lula. Isso faz dele um legado invejável por todos os candidatos. Isso faz, como vimos no início da propaganda, que mesmo o candidato da oposição José Serra (PSDB) se colocar numa linha de continuidade do governo atual. Serra, aliás, enfrenta a inglória tarefa que enfrentou no passado em chave oposta: se em 2002 o tema era a mudança, ele defendia a continuidade; hoje, quando a opinião pede a continuidade, ele tem que disfarçar o fato de que seu nome sugere a mudança. Resta sabermos se a história a ser contada no futuro trará algo além da positiva consolidação da democracia entre nós, ou se a tônica anunciada se confirmará com os personagens óbvios. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!
A coluna Cena Política vai ao ar todas as quitas (por volta das 14:30h), na Rádio Catedral FM 102,3.
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