A semana começou com as imagens do prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB), discutindo de forma truculenta com uma moradora da comunidade de Santa Marta, na zona norte da cidade. Na ocasião, Amazonino visitava áreas soterradas pela chuva quando foi questionado por uma dona de casa sobre as providências a serem tomadas pela prefeitura, reforçando a carência dos moradores que, em tese, justificaria sua necessidade de residir em áreas de risco. Amazonino não titubeou ao dizer “então morra”, sem falar, é claro, na declaração preconceituosa em relação aos paraenses, estado natural da cidadã que o questionava. Mais perversa ainda é continuação da cena, quando o prefeito é alertado sobre sua inabilidade e parte, sem ressalvas, para uma política de cooptação aberta dos moradores. Amazonino promete, na tentativa de contornar o ocorrido, remover os moradores para um terreno novo, beneficiando-os com material de construção e, enquanto isso, pagaria o aluguel de todos até que uma “solução” definitiva fosse encontrada. Na seqüência, sob ovação, Amazonino declara: “de agora em diante eu sou o pai de vocês”. O episódio é mais do que corriqueiro e carrega, creio, elementos importantes para compreendermos os resquícios do que de mais atrasado sobrevive na política brasileira. A moradora, mulher, dona de casa, que se insurgiu contra a truculência e a veleidade de promessas vazias é marca de uma sociedade civil que se torna cada vez mais robusta. Coberta pela imprensa, ávida por escândalos, mas ferramenta importante na democracia, ela, a cidadã, questiona e manifesta carências. Ele, o prefeito, exemplar da política tradicional, destila inabilidade para o convívio democrático. Sua tentativa de colocar os moradores contra aquela que insurgiu é escancarada, quando ao final das “promessas” Amazonino reforça a presença de “ignorantes” discutindo com ele na sua chegada. Confesso que fiquei consternado com a brutalidade do prefeito, mas feliz com a presença de personagens na sociedade capazes de se erguer. Sinal dos bons tempos que talvez tenham vindo para ficar, somente a consolidação da sociedade civil, da sua capacidade de se organizar, vocalizando no mundo público demandas e respeitando as regras do jogo democrático, fará com que as seqüelas do atraso sejam definitivamente superadas. A propósito, Laudicéia Ramos é o nome da moradora verbalmente agredida.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Casamento estável? (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)
Olá, boa tarde! Foram eleitos esta semana os presidentes da Câmara e do Senado Federal, para um mandato de dois anos. A disputa manifesta a força de determinados partidos no quadro nacional e, sobretudo, a capacidade do governo de construir maiorias no Congresso. No Senado, José Sarney (PMDB-AP) ganhou com facilidade, sendo reconduzido ao cargo pela quarta vez. Fato que corrobora com o perfil conservador da casa, sem juízos de valor. Já na Câmara, Marco Maia (PT-RS) enfrentou, sem maiores problemas, o voluntarismo de alguns parlamentares. Mesmo assim, obteve 375 votos, bem mais do que precisava para ser eleito em turno único. Ambos os resultados recuperam um princípio não enunciado, mas legítimo: os partidos de maior representação parlamentar, obtida nas urnas, têm o direito de ocupar a presidência das casas no Poder Legislativo. Não é sempre, porém, que tal prerrogativa é assegurada sem disputas. Em anos recentes vimos como o exemplo mais esdrúxulo, a eleição de Severino Cavalcanti, personagem do atraso imposto pela oposição no interior da Câmara como desafio ao poderio do governo. A piada que Severino representou foi de muito mau gosto, ao ponto do mesmo ser deposto em curto período de tempo. No presente o cenário é mais ameno para as intenções governistas. PT e PMDB conseguiram a presidência das casas, desenhando costuras dentro do possível e rechaçando distensões, como é o caso da candidatura oposicionista de Sandro Mabel (PR-GO), que contrariou a determinação do seu partido de apoiar a Maia e será, agora, alvo de um processo disciplinar. Com isso, PT, o partido da presidenta Dilma, e PMDB, a legenda do seu vice Michel Temer, saem vitoriosos. Muito se falou durante as eleições presidenciais que Dilma, à época candidata, não teria habilidade política para negociar. A comparação com o Lula era inescapável. Ao mesmo tempo, a presença de Temer na chapa não recebeu a devida atenção. Ele é o homem da construção de maiorias, não necessariamente por meios consensuais. Sua habilidade se manifesta, antes, dentro do seu próprio partido, um celeiro heterodoxo de orientações ou falta de, que sempre requer arbítrio em suas decisões. Sem falar, é claro, do político de sólida carreira parlamentar. Creio ser sua fidelidade um bom termômetro. Assim, aos que duvidaram da estabilidade do novo governo fica o recado: o casamento entre PT e PMDB começou bem. Resta saber se terá, como os casamentos em geral, um final triste. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!
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