quinta-feira, 3 de junho de 2010

O CQC e a democracia (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)

Olá, boa tarde! Venho chamando a atenção dos ouvintes para a importância da política nas nossas vidas e, sobretudo, para o cuidado que devemos ter ao criticar maus políticos. Isso porque, é preocupante o modo como a opinião pública tem confundido o despreparo de parte significativa da classe política brasileira com posições antidemocráticas. A constatação de que somos, na maioria das vezes, mal representados tem ocasionado certo desconforto com a política, desestimulando, por exemplo, o reconhecimento de boas ações. Minha opinião sobre isso permanece substancialmente a mesma. No entanto, não pude deixar de comentar um fato que me incomodou seriamente esta semana. Trata-se da exibição do quadro “Teste de Qualidade”, no programa de jornalismo escrachado e humorístico CQC, o “Custe o Que Custar”, exibido pela TV Bandeirantes nas noites de segunda. A existência de programas dessa natureza na televisão brasileira tem crescido, o que manifesta sua popularidade junto aos telespectadores e, também, a consolidação de uma imprensa mais livre, infensa a possíveis investidas da política na ingerência de suas pautas. Acredito que esse seja um bom dado para a democracia, mesmo porque o CQC e congêneres atuam sem aparente interferência e podem, em alguma medida, vocalizar posições contrárias. Voltando ao exemplo, o conhecido quadro exibido na segunda merece comentários. Nele o repórter Danilo Gentili faz perguntas aos parlamentares a partir de manchetes de jornal que não cobram conhecimentos maiores, mas apenas testam se os deputados e senadores estão informados sobre questões atuais. Não sei ao certo se a mensagem trazida pelo quadro pode sugerir que cidadãos precisam demonstrar proficiência em conhecimentos gerais para tornarem-se elegíveis, mesmo porque isso não consta na nossa Constituição. Os critérios de inelegibilidade são outros e passam recentemente por discussão, como o exemplo do projeto “ficha limpa”. A despeito disso, o CQC evidenciou algo que mesmo eu, assíduo defensor da política, tenho que reconhecer: o despreparo de parte significativa da classe política brasileira para o convívio democrático. Falo especialmente do modo como o deputado José Tatico (PTB-GO) respondeu agressivamente ao reporte a simples questão sobre qual Coréia, se a do Norte ou a do Sul, era comunista. Mais do que a incapacidade de boa parte dos parlamentares de responder a pergunta, me chocou o comportamento agressivo do deputado. Ainda que eu tenha críticas ao tratamento moralista que o CQC confere a determinadas questões, sua presença é positiva e o combate aos equívocos não pode ser, em momento algum, autoritário. Seguramente não será por meio de ofensas que a classe política brasileira irá recuperar o seu prestígio há muito abalado, caso seja essa a sua intenção. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!

A coluna Cena Política vai ao ar todas as quitas (por volta das 14:30h), na Rádio Catedral FM 102,3.

Um comentário:

Bella Mendes disse...

Caro Diogo,
apesar de seguidora do blog, estava há algum tempo sem acessá-lo. Mas quero agora parabenizá-lo por tudo o que vi nele: a frequência de postagens, que demonstram a possibilidade de desenvolvimento aprofundado e atualizado de temas; a linguagem que vem se tornando cada vez mais "leve", ainda que erudita; a relevância e atualidade das questões, sem prejuízo da dimensão histórica dos acontecimentos e das leituras teóricas a respeito deles. Ainda que não concorde totalmente com alguns argumentos - ora porque acho que você deixou algo de fora, ora porque acho que você foi excessivamente elegante e diplomático...rs - com o pouco espaço na rádio você tem conseguido com sucesso o que me parece a finalidade desse conjunto de textos: incitar debates, sem ter a pretensão de esgotá-los obviamente em 30 linhas, assim como não se esgotam os problemas políticos do país em quatro anos.
Especificamente, concordo com a crítica ao moralismo que perpassa questões tão diversas como o CQC ou o Ficha Limpa. Mas é preciso não perder o dado da relação entre política e moral (não moralismo), um laço que me parece, senão inevitável, ao menos não "negligenciável", não necessariamente negativo, e que tem ganhado tonalidades especificamente contemporâneas e brasileiras. Bom, mas isso fica pra outra hora.
Parabéns pelo trabalho!
Abraço!