quinta-feira, 10 de junho de 2010

O dinheiro nas eleições... (Coluna Cena Política - Rádio Catedral FM 102,3)

Olá, boa tarde! Os números divulgados esta semana, sobre o montante previsto de gastos para as próximas eleições, são assustadores e merecem maior atenção daqueles que se ocupam com o tão desgastado tema da reforma política. Estima-se que as campanhas este ano custarão algo em torno de R$ 600 milhões. Em termos comparativos, quando Lula foi eleito em 2002, sua campanha declarou ter gasto R$ 39,3 milhões, tendo seu oponente à época, José Serra, gasto R$ 34,7 milhões. Já em 2006 as despesas declaradas aumentaram exponencialmente, indo para R$ 168 milhões declarados por Lula em sua reeleição, e R$ 160 milhões por Alckmin. Este ano, a previsão é que as duas candidaturas de maior investimento, Dilma e Serra, consumirão entre R$ 200 e 250 milhões, nos alertando para a necessidade de revermos o modo como as campanhas têm sido feitas. A presença do poder econômico nas eleições merece atenção, pois inaugura uma relação perigosa para a vida republicana ao atrelar interesses de privados ao mundo da política. Basta imaginarmos alguns cenários, nada distantes da realidade de muitas cidades pelo país: se numa eleição municipal, por exemplo, o dono de um posto de gasolina doa dinheiro para um candidato, não será surpresa se no decorrer do governo, caso eleito, o candidato tenha, no mínimo, “dificuldades” em lidar com os interesses do empresário em questão quando o assunto for a compra de combustíveis para a prefeitura. Mesmo porque, todos sabemos que existirão outras eleições e, por conseguinte, a necessidade de mais e mais ajuda nessa escalada crescente de campanhas cada vez mais caras. Convido o ouvinte, agora, a imaginarmos o mesmo cenário em nível nacional: quantos benefícios não pode ter uma empresa que firma com o governo federal um contrato de publicidade, por exemplo? Não faço nenhuma crítica em particular, apenas elucubrações... Sei que o aumento dos gastos declarados pode ser decorrente do próprio incremento da fiscalização pelos tribunais eleitorais, como o cerco ao caixa dois em campanhas iniciado a partir do que ficou conhecido como escândalo do “mensalão”. Além disso, os candidatos costumam jogar a previsão de custos para cima, pois gastar menos do que o previsto não acarreta punições, ao passo em que gastar mais do que o previsto sim. De qualquer forma, temos aí um problema central nas democracias e para o qual não vemos disposição da classe política para enfrentá-lo: como controlar a entrada do poder econômico na política, casamento iniciado já nas eleições e que atrapalha o exercício republicano do governo? Essa sim é uma boa questão e, na minha opinião, seria mais eficaz no combate à corrupção do que boa parte das medidas que temos visto, ou moralistas, ou superficiais. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!

A coluna Cena Política vai ao ar todas as quitas (por volta das 14:30h), na Rádio Catedral FM 102,3.

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