Olá, boa tarde! O suposto excesso de candidatos na cidade de Juiz de Fora previsto para o próximo pleito eleitoral ganhou os noticiários na semana passada. Pelas contas, os 23 partidos com representação na cidade pretendem, até o momento, lançar algo em torno de 57 candidaturas, incluindo postulantes ao cargo de deputados estadual e federal e senador. A primeira impressão é comum, mesmo entre os analistas: candidatos em demasia disputarão a mesma fatia do eleitorado e podem, no limite, enfraquecer a representação da cidade nas esferas políticas estadual e federal. Entretanto, essa “impressão” carrega consigo uma série de afirmações problemáticas e que demandam maior atenção quanto ao modo como avaliam a representatividade de Juiz de Fora nas últimas legislaturas, ou mesmo a própria idéia de representação política nas democracias contemporâneas. Por um lado, a cidade tem obtido sucesso nas últimas disputas, emplacando nomes locais na Assembléia de Minas e na Câmara Federal, uma média de quatro deputados em cada casa, como bem chamou a atenção o professor Marcelo Dulci da Universidade Federal de Juiz de Fora, avaliação seguramente contrária à maioria das lideranças locais. Por outro, o modo como tal discussão concebe a idéia de representação traduz, talvez, certa confusão quanto ao papel republicano dos parlamentares, reforçada, inclusive, pelo mau desempenho da maioria dos eleitos. É curioso notarmos que na cabeça do eleitorado subsiste a crença de que apenas elegendo o “meu” deputado terei os “meus” interesses defendidos, o que pode, sem medo do exagero, ser traduzido na idéia de que os serviços mínimos e de concessão obrigatória para a garantia da dignidade da população – escola, saúde, saneamento básico, segurança, dentre outros – dependem necessariamente do sucesso de deputados da cidade e região. Sem inocência alguma, todos nós sabemos que é assim que as coisas são. Mas a política, a boa política, nunca foi prisioneira dos fatos e sempre sem preocupou mais com o que o mundo deveria ser do que propriamente com o que o mundo é. Constatar que hoje dependemos da eleição de candidatos da cidade e região para que a cidade e a região sejam atendidas pelas políticas públicas de que somos carentes, não nos impede de problematizar tal prática em nome do bom exercício republicano: se ocupar da coisa pública. Ainda que a cidade tenha muitos candidatos e eleja poucos deles isso não pode, em momento algum, se apresentar como empecilho para sejamos contemplados com que precisamos. Afinal, as disputas na democracia devem produzir bons resultados e não cisões. Torço para que a política se preocupe com todos e não apenas com os seus. Boa tarde a todos e até o Cena Política da semana que vem!
A coluna Cena Política vai ao ar todas a quitas (por volta das 14:30h), na Rádio Catedral FM 102,3.